XXVIII ENCONTRO SOCINE

De 30 de setembro a 03 de outubro de 2025

Universidade Federal do Pará

TEMA DO ENCONTRO

OLHA JÁ:

DO EXTRATIVISMO DE IMAGENS AOS CINEMAS DAS AMAZÔNIAS

Pela primeira vez a Socine vem à Amazônia. Para nomear o tema do encontro, escolhemos uma das gírias mais conhecidas e polissêmicas do Norte: a expressão “Olha já!”. No contexto da pesquisa em cinema e audiovisual, ela nos convida à reflexão acerca da construção dos olhares sobre a região, centro de disputas mundiais, mas esquecida no cenário nacional. O tema convoca um olhar urgente, engajado nas pautas da mudança climática, da preservação ambiental, da sustentabilidade, da defesa dos povos originários, que estão entre as lutas mais importantes do contemporâneo. O olhar do cinema tem um papel essencial nesse campo político, pela possibilidade de promover a denúncia social e a ecocrítica, de representar as identidades e as culturas locais, de difundir histórias e memórias.

Mas a expressão “olha já” é normalmente utilizada pelo nortista num tom irônico, que demonstra certa desconfiança, certo espanto com a fala do outro. É como de imediato reagimos aos discursos nacionais e globais sobre a Amazônia: desponta sempre a dúvida sobre os seus reais compromissos com o desenvolvimento ambiental, social, econômico e cultural da região. O pesquisador Gustavo Soranz aponta que o cinema chega nos territórios amazônicos no mesmo período de consolidação dos modelos extrativistas de exploração econômica da biodiversidade. E é esse modelo que o cinema segue reproduzindo: testemunhamos um verdadeiro extrativismo de imagens, que se apropria das paisagens da floresta e dos rios, das narrativas e das vozes, da natureza e da cultura. Grandes produções cinematográficas estrangeiras e nacionais vêm constantemente à Amazônia e capturam imagens para atender aos seus próprios interesses comerciais e às suas agendas políticas. Falam de nós, mas não falam conosco.

Segundo dados da Ancine, o Norte tem os menores índices de participação relativa de empregos gerados no setor audiovisual do país, com apenas 5%. De acordo com o último mapeamento do Forcine, somente 4% dos cursos de cinema e audiovisual estão na região. A relação entre os espaços de formação e o desenvolvimento do setor produtivo é evidente. A Universidade Federal do Pará, sede do Encontro Socine deste ano, ainda é a única instituição dos sete estados do Norte que tem um Curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual. Há, portanto, apenas um curso, que anualmente oferta 26 vagas, para uma população de mais de 17 milhões de pessoas. Com 14 anos de existência, o Curso de Cinema e Audiovisual da UFPA se tornou um centro dinamizador da cultura audiovisual no Pará, atuando na formação de profissionais das diferentes funções da cadeia produtiva, da pesquisa e da crítica. Questões referentes ao contexto e à identidade amazônica atravessam todo o processo de formação do curso, o que resulta em uma produção audiovisual que representa organicamente a diversidade da cultura local.

A experiência do Curso de Cinema da UFPA demonstra a importância da expansão dos espaços de formação para a real defesa das pautas da Amazônia. A implementação de cursos universitários em todos os sete estados já representaria um passo fundamental na ruptura da lógica extrativista de exploração da região e no fortalecimento dos cinemas amazônicos. O encontro da Socine na região Norte é uma oportunidade de aprofundar a discussão de políticas e estratégias de descentralização da formação, da pesquisa e da produção em nosso país.